quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O Senador...

-Sabia que ia te encontrar aqui.
-Foi onde tudo começou, não foi?
-Sim. Foi aqui que...
-Não me lembre de coisas passadas. Ele está lá em cima!
-Eu sei.
-Daqui a alguns minutos ele estará aqui em baixo.
-Isso, entregue ele. Todos entenderão você.
-Estava pensando em outra coisa.

Ele é rápido. Porém eu sou escorregadio. Ele está muito longe para acertar com a minha arma. Isso também chamaria a atenção de todos na área. Tenho que pegá-lo rápido. Corto caminho. Entro em uma viela e corro muito rápido. Estou cansado, mas motivado. Acho que se não tivesse todo esse equipamento eu correria mais. Por quê o velho sempre me fode?
Saio em uma bifurcação. Não sei para onde ele foi. A policia se aproxima, tenho apenas poucos minutos para terminar o trabalho. Procuro no chão alguma pista, sujeira, vestígio que ele tenha passado por aqui. Uma garoa bem fina começa a cair. Agora tenho três inimigos, a policia que quer me prender, o tempo que tenho de diferença dele e a chuva, que pode apagar qualquer rastro.
Tempo esgotado. Pulo dentro de uma caçamba de entulho. Me escondo entre pedras e papelão. O carro da policia para perto do lugar. Vejo na escuridão da noite, luzes vermelhas e azuis. Não sei o que está acontecendo. Espero que não demorem muito. Preciso dormir, e muito. Acho que depois desse vagabundo, vou tirar uns dias de férias. Dois seria ideal. Sábado e Domingo. Dormir o dia inteiro, isso sim.O carro se afasta. Saio da sujeira. Não adianta procurar ninguém agora.
A noite passa como um estalar de dedos. Meu péssimo sono me torna uma pessoa irritada. Procuro ser gentil no trabalho, mas nunca serei a mesma pessoa. Ao vestir a roupa negra, tenho um poder, tenho algo que me torna diferente do que vejo na cidade. Diferente de tudo e de todos. Posso ajudar as pessoas. Posso ser quem todos querem.
Um senador de nome Rodrigo é acusado de molestar de crianças. Velho sujo. Pena que pro azar dele, ele fará uma palestra sobre direitos humanos em São Paulo hoje. Irei pedir um autógrafo para ele. Celebridades tem que ser tratadas como tais.
Pensei que era mais difícil entrar no prédio da convenção. O único problema é saber como achá-lo. Quando não se sabe de algo, podemos perguntar para quem sempre sabe de tudo. Os jornalistas. Com a desculpa de que sou de uma renomada faculdade, consigo que me digam onde ele irá se hospedar. Me dirijo ao hotel.
Entro com um buquê de flores. Passo pelos seguranças e me dirijo ao andar do senador. Passo em frente a sua porta e desço mais um lance de escadas. A camareira está no andar. Corro até ela:
-Oi. Você poderia me fazer um favor?
-Sim, senhor.
-Minha noiva acabou de sair do quarto e levou a chave. Como a gente brigou hoje de manhã, sai do serviço e comprei umas flores para fazer a surpresa. Mas não tenho a chave, você poderia abrir para mim?
-Desculpe senhor, mas não posso.
-Por favor, você não gostaria de uma surpresa dessas?
-Claro senhor, mas...
-Então. Vamos, eu te dou um "café"!
-Senhor, não posso...
-Cinquenta está bom?
Como tudo se compra com dinheiro, tenho a porta aberta por uma camareira. O safado chega e sobe direto para o quarto. Me visto e preparo para o combate. Vou até a sacada. Está garoando. Mais um problema na noite. Subo no para-peito e com um pulo me agarro a grade do andar de baixo. Subo silenciosamente. Escuto os comentários dos seguranças.
Ele entra. Reclama do ar condicionado. Pega algo para beber e vai tomar um banho. Ele diz que terá uma visita hoje. Deve ser uma vadia. Ao entrar no banho, dou dois minutos e entro no quarto. Uma sala pequena com um bar, uma cama e um guarda roupas compõem o cenário simples porém caro. A mesa vagabunda deve custar mais de cinco mil reais.
Fico no canto. Espero ele sair do banho. A toalha na cintura deixa sua barriga gorda evidente. Sua barba grisalha da a entender que é velho, mas nem tanto. Ele atende o celular e pede para alguém subir. Tenho poucos segundos novamente.
-Boa Noite.
-Quem é você?
-Um fã!
-Você é o justiceiro!
-Não, normalmente sou a chapeuzinho vermelho, mas a minha outra roupa está suja, então peguei a do batman mesmo.
-O que quer?
-Um autógrafo!
-Bem... se é isso que você quer eu te dou com o maior prazer. Sabe, queria conhecer mesmo o tal justiceiro de São Paulo. Você está virando uma figura muito conhecida. Mas por que não matou a policial? Ela é gostosa!
-Estava com preguiça.
-Você está comendo ela, não?
Que conversa fiada. Estou perdendo tempo com tudo isso.
-Quer caneta?
-Ah.. eu tenho. Coloco como? Justiceiro?
-Pode ser.
Tiro uma lâmina da roupa.
-Sua caneta é muito fraca, escreva com a minha.
Eu desfiro um único golpe em sua garganta. Ele cambaleia mas consigo empurrá-lo para a cadeira.
-Isso, agora está bom. Aproveite e dedique a todas as crianças que você comeu, velho filho da puta! Vá para o inferno.
Ele tenta uma reação. Mas entra em choque. O corte é grande e o sangue jorra como se fosse uma inundação. Essa é a minha deixa. Abro a porta e faço o mesmo trajeto para o quarto de baixo. Tenho poucos segundos agora. Tiro o máximo que consigo. Fico apenas com a calça, as luvas e a bota. Escuto um grito feminino.
Corro pelas escadas. Tenho pouco tempo para sair sem ser notado. Três andares abaixo vou pelo corredor principal. Não tem outra saída a não ser a principal. Fico indeciso. O que fazer? Penso, penso e tenho uma idéia. Quebro e aperto o botão de emergência. As sirenes tocam. As pessoas saem dos quartos. Com o isqueiro, provoco a abertura dos sprincles.
Me misturo com os hóspedes. Ando até a saída, onde bombeiros e policiais estão a atender as vítimas. Liberdade. Doce e bela liberdade. Caminho até o metro. A chuva aperta e me molha mais. Agora sim, o disfarce perfeito. Policiais passam por mim e nem me olham. Agora sim, só me falta o maníaco para eu ser totalmente feliz.


just..enjoy.

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