domingo, 31 de maio de 2009

O traste...

Ele veio andando, com um cigarro na mão esquerda. Parecia que não dormia a uma semana. Roupa amassada, barba por fazer. Andava devagar e olhava o movimento. Admirava as pessoas com um sorriso calmo. Chegou perto do rapaz e estendeu a mão direita.
-Olá Eduardo.
-Detetive.
-Ed, por favor. Queria falar comigo?
-É... precisava conversar.
-E quem é a garota.
-Uma vagabunda sem importância.
-Você tem amigos diferentes. Entenda, russos, italianos, chineses, japoneses... pra mim isso é o de menos. O que me importo, é o que eles fazem na minha cidade. Agora você sabe o que eles podem fazer.
O garoto acende um cigarro.
-Vamos Eduardo, no fundo você sabe. Eles são perigosos. Espero que você não se meta em mais problemas, sei que é difícil.
-Estou pensando em viajar.
-Pra onde? Você está sendo investigado, lembra-se?
-Você me acha realmente suspeito?
-Não.
-Então por quê me investiga?
-Olhe garoto, não sei para onde quer ir, mas pode voltar em um caixão.
-Não tenho medo. Morri quando ela morreu.
Ele tirou o distintivo da cintura e colocou no bolso.
-Entre nós, se eu fosse você, iria procurar que fez isso e o mataria.
-Não posso infringir a lei, lembra?
-Quem disse algo sobre lei? Digo sobre justiça. Mexerei uns pauzinhos. Se mande daqui, não volte se quiser, ou volte, foda-se.
-Obrigado.
O garoto se virou e deu mais um trago. O Policial fala:
-Boa sorte filho.
-Filho não, me chame de Edu, Du, Eduardo... como preferir.
-Ok.
O garoto entra no carro e liga o motor. O homem anda dois metrôs, um carro para e ele entra. A vagabunda começa.
-Seu amigo?
-Conhecido.
-Sobre o que conversaram?
-Justiça.
-Justiça?
-E viagens.. Sabia que a Colômbia é bonita? Principalmente a floresta colombiana.
-E o que você quer lá?
-Não sei. Quer ir comigo?
-Não força, não serei sua babá pelo resto da vida!
-Talvez não teremos o resto de nossas vidas.
Ela ficou sem entender.
-Bem... preciso arrumar minhas coisa, e dormir um pouco. Faz um favor para mim? Joga todas aquelas porcarias de garrafas pra fora da minha casa. Esvazia na pia e joga na rua, ou leva pra casa, foda-se.
-Vai entrar por AAA?
-Cala a boca sua vaca, por quê você não ocupa a sua boca me chupando.
Ela fica sem reação por um segundo e abre um sorriso.
-O traste voltou.
-Sim, voltei.

just..enjoy.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Soneto sinestésico.

Seu perfume ficou em minhas mãos.
Volto pra casa contente, enfim.
Sabendo que, pra você nem sou.
Me contento em sonhar, e sonho.

Sonho mais uma paixão,
Deixo-te entrar em mim.
Contando que vá comigo onde vou
em meu pensamento, proponho.

Caso não queira, deixe-me,
basta seu cheiro em mim
para que eu fique bem.

De fato, de nada queixo-me,
porque, tendo-te assim,
tenho o que ninguem tem.


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Álvaro de Campos disse:
       "Todas as cartas de amor são 
       Ridículas. 
       Não seriam cartas de amor se não fossem 
       Ridículas."

Deixem-me apaixonado e ridículo então, uma vez.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Mas... E Se..

Já há um texto aqui que fala sobre se apaixonar em um lugar público.

Passo por um período diferente. Mudanças ocorrem rápido, não sei se realmente fiz escolhas certas, mas resolvi vestir a camisa e deixar rolar. Mesmo me machucando a cada dia mais. Mas essa semana, que poderia ser uma merda.. coisa que está sendo.. aconteceu uma coisa diferente.
Encontrei uma garota linda, perfeitinha pra me apaixonar e ter momentos agradáveis, mas ela não me olhou. Parecia que havia uma parede invisível, ou que ela enchergou através de mim, mas não me olhou. Talvez tenha lido minha mente, e sabia que estava pensando nela. O metrô chega a minha estação, e mesmo ela descendo junto comigo, apreciei por mais uns estantes e mudamos decaminho.
Sua figura, seu olhar, seu jeito me fizeram pensar uma parte da manhã, mas quanto mais trabalho, mais problemas tenho q solucionar. Perdi o foco e esqueci daquela coisa linda, que vi mais cedo.
Hoje entro no metrô. Olho para os lado e sigo minha viagem. Reparo em algo familiar. A mesma mochila, a mesma garota, o mesmo gesto, o mesmo bordão.. Ela estava no mesmo vagão, no dia seguinte. Qual a chance disso acontecer? Ela me olhou com o mesmo olhar, através de mim e só.
Tentei criar coragem para falar com ela, dar meu telefone, tentar algo.. mas não consegui. Uso uma filosofia sobre a vida que realmente caiu como uma luva em mim hoje. " A Vida é algo muito style, a gente pode entrar em um metrô um dia e encontrar a mulher de nossa vida."

Claro que não foi a mulher da minha vida. Claro que amanhã, minhas esperanças serão frustradas pelo tempo, que não dará a mesma oportunidade para apreciá-la novamente. Mas... E Se...


just..enjoy.

sábado, 23 de maio de 2009

Curativos e Cigarros...

Que dor de cabeça. Parece que tomei uma garrafa de vodka. Arde muito. Mas sem abrir os olhos percebo o lugar, o cheiro, o barulho. Abro os olhos e minha roupa está ao meu lado. Meu coldre com a arma ao lado da cama. Sangue, muito sangue e minha máscara no chão. Cacete, onde estou? Um barulho na porta.
-Preciso trocar o curativo dele.
Essa voz. Me lembro dela. Ela se aproxima, e toca meu peito. Verifica se ainda vivo. Mas ela não percebe que o quarto está diferente. Coldre sem arma só indica uma coisa.
-Quem é você?
Aponto a arma que tirei do codtre para a sua cabeça. Ela se assusta mas se acalma rapidamente.
-Sou seu, não se lembra?
-Você era... Eu estou na sua casa? Mas e...
-Calma, estou aqui pra te ajudar.
-Você... Minha máscara, você a tirou.
-Não se preocupe, não contarei para ninguém.
Realmente isso iria acontecer. Acabarei com ela no final. Mas ela me olha com olhar meigo. Troca meu curativo, se preocupa comigo. Não sei o que deu em mim, mas deixei.
-E seus pais, estão bem?
-Estão em choque.
-Eles sabem que estou aqui?
-Fique tranquilo, eles gostam de você. E já perceberam que você não saiu da casa.
-Onde tomei o tiro?
-Na cabeça. De raspão.
-Droga, não irei morrer? Que saco!
Ela me da um comprimido e eu durmo. Acordo horas depois com ela cuidando de mim novamente.
-Quer casar?
-Com quem?
-Comigo, com quem seria mais?
-Engraçadinho. Logo estará bom para pular e atirar nas pessoas.
-Não atiro por diversão, só por necessidade.
-Necessidade sua?
-Não, da vítima.
-Obrigado!
-Pelo que?
-Por me salvar, e a toda a minha família.
-Não foi nada, é pra isso que recebo meus milhões.
-Hahaha... gostei de você!
-Sorte minha.
No meio da noite, vesti a minha roupa. Recarreguei as arma, limpei as lâminas, ajustei o chapéu e coloquei a máscara. Mais uma noite, mais bandidos. Ela chega na última hora, quando estou terminando com as luvas.
-Onde você pensa que vai?
-Pra balada, vamos?
-Você não pode sair ainda.
-Tenho que trabalhar, não se preocupe comigo. E... obrigado.
Abro a porta e ando pelo corredor. Abro a janela e saio. Mas antes, ela toca meu braço.
-Obrigado!
-Não... foi você que salvou a minha vida, não eu.
Mais uma noite, mais trabalho. Agora fumo no alto de um prédio a observar as coisas. Preciso lavar a minha máscara, arrumar a roupa e pegar armas com o velho. O maníaco está a solta e vou matá-lo. Só não sei quando.


just..enjoy.