quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Karat Aquarell

Cada cor, cada tom guardam um pedacinho da minha alma.
Cada ponta perdida é um amor despedaçado, cada lápis gastado é um momento da minha vida que se foi.
Pinto minhas lágrimas de rosa para tentar deixá-las alegres.
Pinto minhas feridas, para que escondidas eu não possa vê-las, e simplesmente as esqueça.

O lápis descascado expõe coisas que eu não diria.

Cada esfarelado de cor, lá se vai uma partícula de sentido,
Se esgotando a felicidade.
Minha vida em doze fragmentos que se acabará quando o último lápis pintar um belo arco-íris colorido e perder sua ponta.


O amor

O amor vem,
Em forma de poesia,
Versos cabidos,
Prosa descomposta.

Feliz ano novo para todos que curtem o enjoy, e claro, para o meu parceiro né!
;)

domingo, 28 de dezembro de 2008

Duas histórias e uma verdade...

Victor começou vendendo maconha na escola. Não por que queria ser um traficante, mas todos vinham fumar da dele. Um dia se cansou e começou a vender. Passou de erva pra pó, assim como seus clientes passaram de uma paranga para 1kg. Pedra não era a preferência dele, mas alguns clientes pagavam bem por ela. De drogas para armas foi um pulo. O garoto enriqueceu do dia para a noite.
Ela era prateada. Tinha mais um carregador. Eduardo comprou mais balas, não tinha certeza de quantas iria usar. Ele engatinhou e mirou.
-Calma amigo, não queremos vizinhos curiosos por barulhos né!
A casa de Victor ficava perto da de Eduardo. Eles eram amigos desde pequenos. O rumo que o garoto tomou foi diferente da de Edu. Mas em um ponto da vida, elas se encontraram. O garoto podia oferecer tudo que ele queria. Mas o desejo de morte e sangue era o único pensamento do garoto.
-Quanto te devo?
-5mil.
-Caralho, que porra cara.
-Na verdade não é esse o preço. Espero que você desista dessa loucura. Você é melhor que isso.
-Melhor que o que Victor?
-Eu sei que você vai matar alguém hoje. Não precisa me tratar como um idiota.
-5mil né?
-Não... Pode levar. Eu não posso te ajudar matando, mas posso pelo menos te dar a ferramenta certa.
-Vai me dar uma metralhadora? Diz Eduardo rindo.
O garoto sai da casa e parte para o encontro com Pedro. Ele não se da conta, mas o ponteiro chega a marcar 150km/h na marginal. O anseio por justiça e respostas cresce cada vez que ele chega perto do lugar do encontro. Sua mão treme. Ele acende um cigarro.
O lugar era bonito. Um prédio de classe alta, tão alta quanto sua altura. Ele deixa o carro na porta. Coloca a arma na cintura, na parte de trás das costas e coloca uma blusa. O elevador era espelhado. Tinha uma poltrona e música de fundo. A cobertura pareceu mais distante do que ela realmente era.
A porta do elevador se abre e revela uma sala com a lareira acesa. A TV, ligada, passava um campeonato de sinuca. Então Pedro aparece. Fumando um charuto e bebendo algo.
-Charuto e 45 anos?
-Claro.
-Diga meu amigo, por que queria me ver?
Pedro prepara o 45anos. Pega um copo, coloca duas pedras de gelo e ao olhar pelo vidro vê o garoto empunhando uma 9mm para a suas costas.
-Resolveu comprar uma arma?
-Foi você, não foi?
-Eu o que?
-Que a matou! Grita Eduardo.
-E por que eu faria isso? O que eu ganho com ela morta?
-Você matou aquele homem.
-Ele atirou em mim. Mereceu morrer. Mas, será que eu mereço?
Eduardo engatinha a arma. Mira um pouco mais para cima, para a cabeça de Pedro.
-Depois que te conheci, a minha vida ficou uma merda.
-Oras seu mal agradecido, a sua vida era uma merda antes de me conhecer! Você transava com vagabundas e se embebedava, a custo de que? De ser rebelde? Não me faça rir. Qual foi a pedra que eu coloquei na sua vida seu filha da puta? Qual? Estou tentando te ajudar e você me fala isso? Cretino maldito!
Os olhos do garoto se enchem de lágrimas. Ele solta a arma e cai aos prantos no chão. Como poderia fazer isso a alguém que o ajudou tanto? Ele se sente revoltado com si mesmo. Pedro chega perto dele, senta-se no chão e coloca a mão na cabeça do garoto.
-Quer saber quem a matou? Investigaremos. Já estou fazendo isso, mas te direi tudo que quiser, assim você pode fazer o que quiser quando achá-lo.
-Obrigado.
-De nada, Amigo.
Eduardo da um suspiro e recolhe a arma. Guarda-a e vai até o elevador.
-Ainda tenho que fazer uma coisa. Uma que não posso deixar para amanhã.
Ele liga seu carro e se dirige até o Club. A entrada estava cheia. Uma fila que poderia ser traduzida como um dos melhores Clubs da cidade. Ele liga para seu amigo. E ganha um Vip que ninguém poderia conseguir. O segurança o acompanha até a sala do italiano. A vagabunda estava mais gostosa hoje, mas não era pra isso que ele tinha vindo.
-Posso te revistar?
-Prefiro ela. Apontando para a garota.
-Pode deixar, eu faço isso.
Ela passa a mão no corpo do garoto e encontra a arma.
-Tá aqui, essa e a única que pode causar algum problema. Pode pegar na saída.
-É que você não sentiu a outra.
-É... verdade... não senti!
O italiano entra pela porta.
-Diga meu filho, algo que eu posso fazer?
-Claro, dizer se a matou ou não!
-Não.
-Não faça teatro ou joguinhos comigo.
-Ok, não a matei. Nem eu ou nenhum de meus homens. Não sei quem a matou.
-Você disse algo sobre amigos para mim.
-Você tem péssimos amigos. Russos não são bem vistos.
-E italianos são?
-Esse seu amigo, trabalha pra um homem que não é bem visto na União Européia. Ele é acusado de inúmeras mortes, tráfico de armas, drogas e qulquer outra coisa que caminhe ou rasteje na face da Terra. Por que ele seria diferente?
-O que você quer dizer?
-Quando eu era mais jovem, ouvi falar da história de um homem que matou a família de uma empregada, por que ela queria passar mais tempo em casa e por isso queria sair do emprego. As aparências enganam Eduardo.
-Não sei o que eu faço.
-Pegue sua arma e vá para casa dormir. Mandarei dois homens meus irem com você. Você está péssimo. Precisa dormir um pouco.
-Não precisa.
-Não confia em mim né? Tudo bem, ela vai com você.
-A vagabunda? Não, obrigado. Se algo acontecesse, eu teria que ajuda-la a não quebrar a unha.
-Você é engraçado Eduardo, mas ela sabe se defender, não é meu anjo?
-Sim.
-Vá com ele, e cuide para que ele sobreviva até amanhã.
-Até parece que estão querendo me matar.
-Mas estão...


just..enjoy.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

O menino que queria a lua...

Pediram para ela descer,
mas era claro que não haveria um amanhecer
se ela saísse de lá...
se ele subisse e puxasse ela pra cá.

Claramente era algo que não podia dar,
Porque não presentear com um cantar?
Não raposa ingênua, não há canto belo..
queria algo mais bonito que o do sabiá velho.

Engano seu menino de lata,
chame o porco, pois ele tem uma gaita.
E por quê eu irei querer uma gaita...
se nada é tão bonita quanto minha amada?

Preste atenção e escute meu conselho,
quem diria que um menino de lata amaria uma flor de canteiro?
Canteiro nada, tenha mais respeito...
ela mora em um jardim, é filha de um jardineiro.

Se ela é tão especial, por que queres dar uma coisa assim?
Isso é algo que só diz respeito a mim.
Calma amigo pratiado...
o que seria pior que um homem de lata enferrujado?

Enferrujado por quê, haveria motivo?
Se eu disser como você pode conseguir a lua,
você ficaria todo emotivo?
Diga por favor, amiga peluda.

Tudo bem, mais só tem um problema,
provável que esse seja um dilema!
Vamos não me enrole bela amiga,
diga como conseguir o presente da minha querida.

Quando escurecer novamente entre no bosque e siga até o lago,
lá você encontrará o que procura, mas poderá ficar estragado.
Estragar como com uma dádiva tão bela?
Poderia eu pegar a lua para minha donzela?

Para pegar na água terá que entrar,
se demorar e não se secar, pode enferrujar.
É um risco que vale a pena, esse eu correria...
se subisse na escada cairia e morreria.

Pois com toda a convicção o menino de lata entrou,
com uma garrafinha tentou pegar a lua, não parou.
O tempo passava e o menino enlatado...
parecia que esquecia do risco de ficar enferrujado.

Finalmente engarrafou a lua,
feliz correu até chegar no canteiro, perto da rua.
Gritava para a flor que era um botão...
"Você é a dona do meu coração".

Mas enferrujou antes dela despertar,
a florzinha ficou a se lamentar.
A raposa ouviu e confessou...
que ele tinha um amor imenso, por isso se arriscou.

Pequena, ele te amava, era coisa verdadeira,
meu amigo era prateado, mas não fazia brincadeira.
Pense nele e ilumine o jardim...
cresça, cresça... e se torne uma linda Jasmim!


just..enjoy.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Uma Floresta...

A distancia nos deixa longe
a proximidade nos da prazer..
Sonho? apenas tento deixá-lo acordado
na imensidão de ânimos dormentes.

Apenas o simples fato da floresta ser calma
me deixa ainda mais sombrio com meus pensamentos..
"Nada tão grande", eu digo para mim mesmo
mas apenas tento esconder meu medo em palavras sem sentido.

Mas no fundo a floresta não é tão assustadora
ela só exige uma prática constante de perfeição..
Perfeição essa que só aprendemos com experiência,
nada mais que uma sólida experiência de fatores cotidianos.

Depois de um tempo é fácil se acostumar em estar perdido,
sozinho, isolado... mas claro que isso é verdade..
Todos temos algo assim para encarar, um desafio maior que nós mesmos
para uns é uma escalada, para outros uma maratona e para muitos, simplesmente a Vida.


just..enjoy.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Senta que lá vem a história - Prt. 16

Pegou suas coisas e partiu. Não precisava de muitos objetos para a sua viagem. Era algo que teria que comprar lá. Espuma para barbear, lâmina para barbear, blusas, camisetas, tudo que não poderia levar daqui. Claro que o clima era diferente, por isso mesmo que ele preferia comprar lá. Afinal, uma mala pesada só da trabalho.
Deu um beijo em sua avó e saiu pela porta. Sua mãe, aos prantos, sorria e arrumava a sua blusa. Era um domingo de manhã, e mesmo com a previsão do tempo dizendo que iria fazer calor, o clima quis dar uma prévia do que seria daqui para frente. Seu pai pegou a sua mala e foi para o carro. Com um último suspiro, agradeceu a oportunidade ao céus e caminhou em direção ao carro.
Pensamentos inoportunos passavam em sua cabeça. Pela janela do carro, ele via a a avenida dos bandeirantes. Observava tudo em seus mínimos detalhes. Ao pararem no farol, comprou balas do garoto que vendia guloseimas por lá. "Só pra guardar de lembrança" ele pensava.
O aeroporto estava cheio. Ele fez o Check-In, passou a mão nas malas e saiu. Ao chegar na linha permitida para todos, na frente do portão de embarque, deu um abraço em seu pai e disse adeus. Sem olhar para trás, foi em um avião turbulento até Nova York.
Porém, ao voltar escoltado pela Interpol, parecia que tinham tirado a sua alma. Foi em um dia de frio que o garoto chegou na cidade. Sem saber o que fazer, foi acompanhado pelo agente da polícia internacional até a Federal. Todos olhavam para ele como se quisessem ajudar. Mas ele não se mexia. Seus pais chegaram e o abraçaram. Foi um longo caminho para casa naquele dia.

-Marco! Marco! Acorda.
-Que é?
-Estamos atrasados, vai se arrumar.
-Ok, amigo. Mas não me deixe tomar mais tudo aquilo de Tequila, sim?
Os dois correram a se aprontar e saíram. Caio não demorou a chegar, sabia todos os caminho até lá.
-Você ligou pra ela?
-Claro, liguei enquanto você dormia!
-O seu amigo não dorme em casa?
-Normalmente não... ele dorme na casa das "amigas".
-Ah... "amigas". E você seguia a mesma vida que a dele?
-Não. Eu era pior. Só aparecia pra trocar de roupa, e as vezes as minhas roupas estavam na casa das meninas. Ai eu tinha que ficar ligando pra procurar uma camisa. Era engraçado.
-Uhm... que revelador.
-Pensou que eu era um pega ninguém?
-Não. Mas não pensei que era assim, baguçado desse jeito! Mas você devia só pegar as feinhas.
-Quando você conhecer a Vivi, você repete essa frase novamente.
Ao chegar no restaurante, uma loira baixa estava a esperar alguém. Marco olhou dos pés a cabeça.
-Velho... olha aquela mina. Ela é perfeita mano.
A loira reage instantaneamente quando Caio a olha. O sol bate em sua pele e seu sorriso transmite uma paz, mas seu corpo insegurança.
-Caio! Ela grita.
Os dois se abraçam. No meio da troca de afetos, ela ameaça tentar beijar Caio, mas recua rapidamente.
-Marco, essa é a Vivi.
-Oi Marco, tudo bem?
-Ah... tudo sim.
-Caio, eu fiz as reservas, vamos entrar?
-Claro.
Depois de um almoço muito proveitoso, os amigos se despediram.
-Apareçam em casa qualquer dia.
Marco se prontifica.
-Claro que apareceremos.
-Tchau gatinhos.
Ao entrarem no carro e pararem no primeiro farol Caio pergunta.
-Você não disse nada o almoço inteiro, só poucas palavras. Está tudo bem?
-Velho... Ela é perfeita! E você... é um Deus!
-HAHAHA!
-Não... verdade. Não sabia que ela era assim.
-Eu só pegava mulher feia?
-Desculpa!
Eles passaram na casa de Gabriel. Mas só na casa de Felipe que eles tiveram sucesso e encontraram alguém lá.
-Entra logo, to acabando de lavar o Shui.
Shui era o cachorro de Felipe. Ele era muito bonito, mas vira-lata. Como o cachorro tinha uma cara meio estranha, Felipe decidiu que ele chamaria Shui, tendo em vista que se parecia muito com Shui-ang, um garoto do intercâmbio que conhecera a um tempo atrás.
-Ei Felipe, você conhece a Vivi? Pergunta Marco.
-Ah, claro... por quê?
-Nada não!
-O Marco ficou impressionado com ela.
-Ela é gostosa né? Quando minha mãe a viu, ela quis que eu me casasse com ela. "Meus netos serão lindos".
Depois de secar o Shui, Felipe se trocou e foram tomar sorvete em um shopping perto de sua casa. Porém no meio do caminho, um pensamento veio na cabeça de Caio.
-Mas... por quê será que ela ligou pra mim ontem?
-Sei lá! Responde Marco.
-De quem vocês estão falando?
-Ah.. lembrei, estamos falando da Carol que ligou pro tontão aqui pra ouvir a voz dele! Diz Marco ironicamente.
-Você tá brincando né!?
-Não, pior que não estou! E ele desligou o telefone e nem falou com ela.
-Ah não! Viro viado! Fica longe dele Marco, ele vai te agarrar! Bichona! Ela é mó gatinha, como você fez isso?
-Simples, fechei o flip. Diz Caio raivoso.
-Ela te quer e isso é fato! Diz Felipe.
Ao estacionarem o carro, eles entram no shopping e compram sorvete e jogam papo furado. Marco se intereça por uma vendedora e entra na loja pra pedir seu telefone, aproveitando para experimentar algumas roupas. Durante a bagunça dos meninos na loja Caio sente seu telefone vibrar.
-Oi.
-É o Gabi.
-Fala Gabriel.
-O que vocês estão fazendo?
-Estamos no shopping eu, o Marco e o Felipe tomando sorvete e experimentando roupas.
-Passa aqui pra gente beber tequila, comprei uma garrafa.
-Fecho! Saindo daqui a gente passa na sua casa então. Ai a gente da um role com essa garrafa.
Depois de desligar o telefone e contar a novidade para os outros, todos se animam e saem da loja não com apenas um telefone, mas dois.
Caio decide ligar para a garota do telefonema do dia passado. Não era uma vontade tão grande quanto o medo ou a vergonha do momento.
-Alô.
-Oi Carol, tudo bem?
-Tudo sim, e com você?
-Tudo certinho. Fala rapidinho que to meio ocupada.
-Ah... é que temos uma garrafa de tequila e vamos dar uma volta com ela. Chama as meninas para irem com a gente.
-A gente quem?
-Os meninos e você.
-Hum... sabe o que é... não vai dar. Tenho compromisso já!
-Ok então. Não se preocupe.
-Beijos Caio.
O menino fica meio triste mas não deixa transparecer isso. Mas claramente, Marco se liga na situação. A garrafa era bonita, e seu conteúdo melhor ainda. Eles se reuniram em frente a um bar onde o dono era um velho amigo, beberam tequila, cerveja, caipirinha e comeram batatas. Tudo no melhor estilo. As pessoas das outras mesas, que eram poucas mas compostas por muitas mulheres, olhavam para os amigos toda a hora.
-Olha lá Gabriel, ela ta olhando pra você.
-Deixa eu terminar meu cigarro que vou conversar com ela.
-Vai fumando. Diz Felipe indignado.
-Não, o cigarro atrapalha meu charme.
Todos riem, mas Caio não estão no mesmo espírito que todos. Felipe fala ao telefone e diz que as meninas da loja convidaram eles para uma balada. Todos se empolgam com a possibilidade de fecharem bem a noite. Mas nem todos são pura empolgação.
-Caio, me empresta o telefone? Pede Marco.
-Está em cima da mesa.
Marco abre o flip, disca um número e entrega o telefone na mão de Caio.
-O que é isso?
-Fale pra ela o que você quer falar!
-Não... não quero falar nada.
-Claro que quer, eu sei!
-Alô? A voz diz pelo telefone.
-Oi Carol.
-Ah, oi Caio... Diga.
-Só liguei pra ouvir a sua voz.
O bar parece menos barulhento depois daquela frase. O garoto escuta cada batida de seu coração, cada suspiro que da, cada brisa que bate em sua pele suada de nervoso. Apenas o mundo parou por um segundo, só para ele poder dizer aquela frase que era tão difícil de ser dita. Apenas por um segundo, o mundo parou para Caio.


just..enjoy.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Um inocente...

Ele corria com a faca na mão. E eu, atrás dele como se fosse um leão. Um caçador atrás da caça. Ele sobe as escadas caindo. Eu pulo degraus rapidamente. Ele se esconde em um dos quartos sombrios pela noite. Eu paro no corredor e fico a observar. Tudo está caldo e imóvel. Móveis antigos ainda decoram o lugar, mas são poucos. Alguns grafites e pichações colorem a parede de um lugar que um dia foi chamado de prédio.
Ele me surpreende. Corre rapidamente pela escada abaixo. Eu que estava longe das escada, andando devagar sou obrigado a continuar a perseguição. Dou um pulo e com o pé direito o impulso no para-peito da escada. Caio e começo a correr. Eles está cansando, e eu apenas começando. Com um leve toque no meu cinto, pego uma pequena lâmina que arremesso contra as costas dele. "Na mosca"!
Ele cai e rola pelas escada. Em um último suspiro tenta descer mais um lance. Ele consegui ficar de pé, mas cai novamente e rola as escadas. Como se fosse um filme, no último degrau ele toma um impulso maior e seu corpo é jogado contra a janela de vidro, que se espatifa e vê seu agressor cair de uma altura de 5andares até se encontrar com o chão.
Observo seu corpo pela janela. Ele não largou a faca. A arma do crime. Deveria ser o medo. Só pode ser isso. Sua cabeça estourada diz que ele está morto. Mas a dúvida do por quê as pessoas fazem esse tipo de coisa me persegue. Como alguém consegue matar pessoas inocentes? É uma pergunta que não vai ser ele que me responderá.
Minha casa estava vazia. E eu mais uma vez atrasado para o trabalho. Corro e arrumo minhas coisas. Sem a faculdade, tenho um tempo maior para me concentrar nos bandidos da cidade. Estou cansado. Dolorido. Mas nunca derrotado ou desmotivado. Não posso deixar que pessoas inocentes sejam mortas, como aquele rapaz foi.
Ao passar por uma banca na Paulista, vejo um jornal com um corpo. Volto e paro para ler. A manchete me deixa atordoado. "Inocente é morto por justiceiro". Como assim... inocente? Não posso acreditar no que leio. Compro o jornal e leio a matéria da página 2:
"Na noite anterior, o justiceiro fez mais uma vítima em seu legado de mortes na cidade. Mas dessa vez foi um homem de 37 anos, casado, com 2 filhos. O mais estranho é que o homem estava com uma faca suja de sangue. Mas o Sargento da Polícia Militar, Enrique Camuto esclarece o caso para nosso jornal. "O homem tinha acabado de ligar para a polícia quando ao entrar em sua casa percebeu que ela tinha sido arrombada. Ele relata que a mulher tinha sido esfaqueada e socorre-a. Mas em um momento da ligação, ele diz que há alguém na casa. Ao fundo da gravação podemos perceber vozes que gritam enquanto eles brigam. O homem pega o telefone e diz que o assaltante correu com a arma do crime e que ele iria atrás. Não conseguimos segurá-lo na linha". Como podemos ver, o justiceiro atacou um inocente, e agora duas crianças são órfãos. Até onde essa chacina vai parar? Como podemos detê-lo? Especialistas dizem que..."
Não posso acreditar. Começo a passar mal. A culpa cai em mim. Como não pude desconfiar daquilo? Não pode ser. Deve ser algum tipo de mentira inventada pela mídia. Mas ao chegar na padaria, o jornal conta a mesma história. Ligo para o trabalho e digo que não irei, pois estou indo ao médico, não me sinto muito bem. Mentira seria se não fosse verdade. Estou mal.
Passo na casa do velho e converso com ele sobre isso.
-Alguém tinha que morrer, não?
-Eu falhei.
-Claro. Você atacou o primeiro que viu na rua.
-Não foi isso... Ele estava cheio de sangue, com uma faca na mão. Eu pensei que...
-Pensou que? Ele era um assassino perigoso, certo?
-É.
-Todos pensariam.
-É... Todos pensariam.
-Mas ninguém mataria ele por pensar.
-Mas eu estou fazendo o bem para as pessoas. Já tirei vários vagabundos da rua. Errar é humano.
-Não na sua profissão!
-Sabe... Em guerras inocentes morrem. Não tenho culpa disso.
-Tem sim, pois foi você que puxou o gatilho.
-Eu salvei aquelas pessoas. Mais poderiam estar mortas ou sofrendo. Eu acabei com isso. Uma morte vale, por 100 vidas.
-Você acha?
-Acho!
O velho fica surpreso e continua a fazer suas tarefas. O velho rádio de pilha da a notícia que o governador está estudando propostas para acabar com o vigilante. Mas não presto atenção em nada.
Nas ruas, sento o frio. Sinto o medo. O vazio. No velho ponto onde tudo começou fumo um cigarro. Estou cansado. Com fome. Dou a ultima olhada no centro, só para ter certeza. Encontro a policial fazendo ronda com um parceiro. Ao chegar, ele saca a arma. Eu já tenho a minha apontada para a sua cabeça. Ela faz um sinal e ele abaixa a arma.
-Procurando alguém para matar?
-Por quê? Está interessada na vaga?
-Como você está?
-Com uma dor nas costas, e você?
-Pare de ser maluco, você matou um inocente e está bem?
-Como sabe que ele é inocente?
-A investigação final concluiu isso. Você sabe que querem te prender por isso, não é?
-Vocês policiais querem prender todo mundo também!
-E vocês justiceiros querem matar.
-Só mato quem merece.
-O incente merecia?
-Talvez você mereça.
-Você está se tornando incontrolável!


just..enjoy.