domingo, 24 de agosto de 2008

O Peso da Culpa

Não julgastes para não ser julgado. Era fácil dizer. Mas meu julgamento já tem a sentença. CULPADO. E isso martela na minha cabeça. Odeio pensar nisso. Mas se torna frequente no trajeto casa/facul, facul/casa. Nada foi dito sobre os corpos. Se passou um mês e nada. Provável que tenham esquecido do caso. Preciso de um amigo na polícia.
Essa culpa ficou na minha cabeça até quinta-feira. Quando decidi fumar um cigarro depois da aula. Estava a caminho do metrô quando notei uma movimentação. Atrás de uma caçamba havia um mendigo. Ele estava bêbado. Voltei a tragar meu cigarro. Mas subitamente ouvi um choro. Bem baixo. Resolvi ficar rente a parede e me aproximei do homem.
-Não. Por favor.
-Quietinha! Sem gritar.
Uma menina de uns 13 no chão. Com as pernas abertas. Seios pequeninos para fora. Chorando. E um homem nojento no meio dela. Sem a calça. Ele tampava a boca dela. Cansada de brigar a menina ficava imóvel. O sangue subiu. Peguei minha arma. Quando olho novamente.Ele começa a transar com a garota. E ela... Olha para mim. Seus olhos brilham... E pedem socorro.
-Olá... traste.
O tiro pega na cabeça. Apenas um disparo. Estava começando a ficar bom nisso. A garota tenta se levantar rapidamente. Se veste e começa a chorar. Bate no cadáver com as mãos. Deve sentir muito ódio dele. Eu não a culpo. Guardo a arma e corro muito rápido. Em direção a faculdade. Nunca fui burro mas frequentei todas as aulas de direito. Entrei em um bar e me sentei com o meu alibi.
Já não trabalhava bem. Não comia bem. Não treinava bem. Não transava bem. Estava em uma outra realidade. Na verdade, em outro nível. E estava frequentando minhas aulas de direito mais ainda. Sempre com perguntas circunstanciais. Precisava de algo. Precisava de alguém. Precisava me encontrar ou apenas encontrar o q eu fazia. Não aguentei o peso. Desabei a chorar em casa. Ai entendi tudo que tinha lido. Visto. Entendido.
Comprei uma bota de 200 reais. Impermeável. Uma calça preta. Claro que mandei ajustá-la. Camiseta branca lisa. E uma blusa preta. Pronto. Meu material de guerra estava pronto. Mas só parecia com um metaleiro maluco.
Precisava de uma inspiração. Então fui na AnimeCom e prestei muita atenção nos modelitos. Depois de alguns reais gastos para comprar revistas japonesas e contatos na própria feira arumei uma costureira que podia fazer parte do que eu queria. A capa e o chapéus eu comprei. E tudo vestido. Bem... ficava perfeito.
Andava a noite. Nos finais de semana. A procurar qualquer um que não teme a justiça. Vou ser sincero e dizer que demorei para achar um marginal que correu quando me ouviu chegar. Era mais difícil que pensava. Resolvi ir para a Sé. Fui de metrô e em uma das vielas coloquei a minha roupa. Carreguei a arma e fui para a procura. Mas a minha máscara me incomodava.
Depois que passei muito frio, resolvi ir embora. No caminho ergui a máscara e reparei que meu rosto sangrava. Puta idéia de jerico. Se achasse bandidos provavelmente eles ririam da minha cara. "É um pássaro? É um avião? É o Super-Homem? Não! É um tonto de máscara triste." Que vergonha. Sorte que ninguém tinha me visto... Ainda.Escutei barulhos e passos. Alguém corria.
-Central, preciso de ajuda. Estou ferida e tem três homens me perseguindo.
Algo estranho no ar. Me escondi entre a porta e a parede de um prédio. Vi três homens armados correndo atrás de alguém. Não era alguém qualquer. Era uma guarda metropolitana. Ela escorregou e caiu. Os homens a alcançaram. Começou a covardia. Chutes e pontapés. A mulher gritava e sangrava e os homens... se divertiam.
Um flash passou pela minha cabeça. Eu engatilhei a arma. Malditos sejam. Todos. E eu também.
-Boa noite senhores.
-Mas que porra é essa?
-Ele vai para a festa a fantasia!
-Saia daqui! Gritou a pobre moça.
-Não, não. Ele irá nos fazer companhia, certo?
-
Claro.
Eles batiam na pobre mulher. Ela viu sua vida passar na sua frente. Até eu chegar um pouco mais perto.
-Parado ai o da capa. Mas que porra é essa?
-Minha roupa.
-Você é o Batman ou o que?
-Não. Eu sou....
Desarmo com facilidade o primeiro oponente. Bato até ele cair no chão. O segundo não é tão fácil assim. Mas com a faca do primeiro, acerto sua barriga e ele começa a sangrar. O terceiro empunha uma arma, mas não chega a atirar. Quebro seu braço. E o sufoco até ele parar de se mexer. Pronto tudo acabado.
-Você está bem, senhorita
-Não muito.
Escuto passos. Alguém corre. É o primeiro homem que derrubei. Ele corre para se safar. Corre tanto que sei que não vou alcançá-lo. Tiro a arma do coldre improvisado e atiro em direção a ele. Atiro uma vez e erro. O segundo tiro também. Mas o terceiro não. Ele cai e para ao deslizar 5 metro. 3 vidas acabaram naquela rua. Uma vida foi salva naquela noite.
-Você, o matou?
-Espero que sim. Estou ficando sem balas. Falo ironicamente.
-Você está preso.
-Sabemos que não tem condições de prender ninguém, policial. Deite e relaxe. Seus amigos logo chegarão.
-E se os amigos deles vierem.
-Eu estarei aqui... Para te proteger.
Essa foi a frase da noite. Ouvi passos depois de 2 minutos. A polícia cercou o lugar e a policial foi resgatada. Observei de um ponto que não poderia ser visto e acompanhei tudo nos jornais matinais e na TV. Todos diziam de um justiceiro. Um que salvou uma policial da morte e mandou 3 marginais para o inferno. Depois de umas semana ela foi entrevistada e deu o seguinte depoimento:
"Senti frio. Achei que iriam me matar. Me bateram, me chamaram de todos os nomes e falaram que iriam me estuprar. Tive muito medo. Pensei nos meus pais e amigos. Rezei para Deus. E alguém atendeu minhas orações.
Acho que ele fez o que tinha que fazer na hora. Sei que é errado matar pessoas. Acredito na justiça e luto por ela. Mesmo ferida tentei prendê-lo. E no meio de tanta tristeza, morte, frio, escuridão, medo, armas, chutes, gente morta e orações... senti um pouco de bondade do homem da mascara triste.
Repórter: Você disse algo para ele?
Eu disse que mais gente poderia voltar. Amigos dos assaltantes.
Repórter: E o que ele disse?
Que estaria lá para me proteger."
Não sei se a capa deu certo. Se colocou medo naquelas pessoas. Se aquele homem estava sentindo prazer no beco. Se o outro sentiu a faca gelada. Ma sei que se eu não tivesse tomado a decisão certa... A menina não sorriria hoje. E a policial não estaria viva. Agora todos sabem que existe uma esperança. Que a noite tem um rosto.
Agora entendo o por que da roupa. Ela manteve minha alma limpa. Meu sangue fluindo. E pela primeira vez depois de muito tempo, consegui dormir. Eu seu que ela ficara pesada durante o tempo. Sei que levarei o mundo nas costas quando vesti-la. Sei que serei caçado por usá-la. E sei que preciso de uma outra arma e muitas balas.

just..enjoy.

2 comentários:

Sah disse...

A guarda metropolitana foi uma boa, tipo, cometer crime na frente de quem tem o poder de prender não é tão fácil, gostei da coragem dele. Continua a história com a mesma qualidade =D
Mas se pá coloca um lembrete no final: História de ficção, por favor não faça nada baseado na história.
Sabe pq digo isso? pq vc preserva um senso de justiça muito forte e isso mexe com as pessoas
bjaoo

luuu disse...

Belaaaaaa....
q bom q vc está gostando!

Haverá uma moral nessa história... na verdade, essa é a única história que eu sei o final... já escrevi o último capítulo na minha mente.
uahuahahahahuahauauahhuahahha
Parei para pensar e realmente essa é a única história que tem um final.

Anotada a dica!!