domingo, 12 de outubro de 2008

O velho e um pedido...

As benditas armas emperram. Como cuidar de um maníaco? Simples... Matando-o a sangue frio. Depois de alguns socos ele se levanta e tira uma faca. Eu pulo em cima dele e a faca escorrega. O objeto cortante é delicadamente introduzido no seu peito. Ele respira. Perde as forças. E morre em um minuto mais ou menos. Estou começando a ficar bom nisso, e sem armas.
Visito novamente o alemão nazista. Acordo-o em uma noite fria.
-Boa noite, velho.
-Quem está ai?
-Preciso de seus serviços novamente.
-E se eu me recusar?
Confesso que não soube responder a pergunta do velho. Fiquei irritado, profundamente irritado e virei as costas para sair.
-Espere... não se ofenda. Ela travou novamente, certo? Deve ser a mola do gatilho.
-Sim travou.
-Por que você não usa um modelo mais novo?
-Porque eu quero essa!
-Claro, me desculpe. Passe me a arma e vamos até minha oficina que darei uma olhada.
A oficina ficava do lado de fora da casa. Um barracão velho. Com vidros quebrados. Antes de entrar o velho passa pela cozinha e pega uma xícara de café. Ele entra no barraco e acende as luzes.
-Sabe, essas belezas foram mudadas. Aceitam balas de 38 mas não são um 38. O coice é o fator decisivo para um tiro repetido, sabia? e se for muito forte, o coice pode danificar a mola.
-Obrigado pela aula, professor.
-Você é chato demais. Não é o Batman. Tenha isso na mente. Tem namorada? Como ela te aguenta?
-Você fala demais.
-Olhe a molinha, exatamente o que pensei. Terei que trocá-la por uma mais forte.
-E quanto vai ficar isso?
-Acho que vinte reais.
-Tem troco para trinta e oito?
-Boa piada meu jovem. Se continuar assim vai matar seus inimigos com risadas. Aliás, tente acertar apenas um tiro no alvo. Isso minimiza o laudo da perícia.
-Como sabe disso?
-Apenas sei.
-Fale velhote, você não é daqui certo?
-Por que?
-Você é da Alemanha.
-Não, sou do Sul.
-Se fosse, teria um sotaque característico. Você aprendeu um bom português, mas é alemão.
-Ok, você acertou.
-Você era nazista, certo?
-O que? Você está me insultando?
-Sua idade não nega, você sabe mais de armas do que qualquer um. E viveu na Alemanha.
-Como sabe se vivi lá?
-Na sua nuca há um ponto pintado. Era assim que marcavam os nazistas capturados. Nos campos de concentração.
-Você é esperto, Batman. Vai me matar?
-Eu deveria?
-Matei muita gente inocente. Fiz coisas que não me orgulho. Mas gostaria de contribuir para a sua causa. Injusta mas assim mesmo, a melhor saída que encontrei para pagar meus pecados.
-E o que eu precisaria de um verme como você.
-Abaixe a arma para poder pensar melhor, sim? Eu conserto e te forneço alguns tipos de armas.
-E o que você ganha com isso?
-A certeza que cada bala será para matar um canalha como eu.
-Que tal se eu matasse você e pegasse suas coisas?
-As suas armas. Elas funcionarão por pouco tempo. A pessoa que fez a parte do gatilho não tinha conta que era um modelo original e que as outras partes estavam funcionando. Ele travará novamente. E novamente. E novamente. Até alguém refazer tudo.
Por que confiar em alguém que matava por diversão?
-Eu era da unidade especial do exercito alemão. Sei matar com eficiência. E sei algumas coisas sobre tortura, facas, armas, conserto de armas e artefatos cortantes, sobrevivência, caça e orientação lunar e terrestre.
-Eles treinavam bem suas tropas.
-Posso te ensinar algo. E você pega eles por mim!
Não sei porque, mas meu coração amoleceu e eu aceitei a ajuda. Precisava de alguém que me ajudasse no trabalho, mas deixei claro quem manda.
-Velho, aceito sua ajuda. Mas se pensar em algo errado, pode ter certeza que eu te mandarei para o campo de concentração do inferno!
-Ok.
O velho me ensinou algumas coisas sobre manuseio de facas e armas de fogo. Me ensinou como tirar proveito de um dia chuvoso. De como o inimigo pensa. Qual o melhor ângulo de perseguição da bala. Me ensinou um método antigo para cobrir rastros. E o mais importante. Que pessoas podem mudar se forem incentivadas.
Depois dessas aulas eu percorria as noites sem problemas. Adotei também duas facas para combates próximos. A TV falava de um homem com estilo clássico. Ele deveria ter de 38 a 45 anos e ser ex-milita. Informações destorcidas e que me ajudavam muito. Eu acertava muitos mais agora. Tirava de circulação perigosos bandidos.
Homens e mulheres que faziam pessoas chorarem. Eu era a luz no fim do túnel. A última peça em cartaz. A pessoa que atendia suas preces. E nada me tirava o direito de fazer isso. Ninguém nunca ajudou aquele menino que eu vi. Talvez se tivesse alguém como eu, ele estaria vivo. Mas no alto desse prédio, penso no que o velho disse quando saí de sua casa.
-Tem pessoas que roubam e dão para os pobres, que querem impostos dos ricos. Mas quando furam a lei, eles se igualam, mesmo sendo nobre o seu esforço.


just..enjoy.

2 comentários:

Sah disse...

Bela reflexão

Sah disse...

As vezes, para fazer coisas boas nem sempre se tomam caminhos bons, ou não se sacrificam coisas.