sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Quanto vale uma vida?

Era quase tudo simples na minha vida. O que não era simples era explicar os meus hematomas no serviço. Afinal, não sou o homem de aço, me machuco, sangro. E muitas vezes tenho que agir como se nada tivesse acontecido. Mas a cada dia, inventava novas histórias. Estava ficando bom nisso... muito bom.
Passava noites procurando bandidos. Perdia o sono. Ficava cansado. Minha academia não surtia tanto efeito quanto antes e meu namoro tinha acabado tantas vezes que perdi a conta. Claro que se paga um preço muito alto. Mas será que tudo é válido? Será que esse é o preço para manter as ruas limpas? Essa é a reflexão que faço essa noite. De um ponto da cidade que ninguém me vê.
Pessoas andam nas ruas. A Paulista movimentada diz que é sexta-feira. Dia de happy-hour e baladas. Pra mim... apenas mais uma noite sem dormir. Pessoas dirigem apressadas mas poucas correm. Na verdade... ninguém corre como aquela mulher correu. Eu a vejo na minha mente. Vejo seus passos ficando cansados. Vejo ele batendo na sua cabeça.
Aquela maldita noite que procuro esquecer que falhei. E por esse motivo... não durmo a quase uma semana... esperando. Esperando o momento que ele atacará novamente. Afinal, um maníaco é assim. Ataca várias pessoas. Alguns acham que estão fazendo o certo. Que estão ajudando alguém. Mas normalmente, isso é apenas uma ilusão. Uma desculpa.
Ele era forte. Não consegui sacar a arma a tempo e ele a matou. Uma pancada certeira na cabeça. Fiquei sem reação. Minha mão tremeu. Meu olhar se acalmou e se despediu da garota. Maldito monstro. Sempre consigo chegar a tempo. Mas dessa vez não foi o bastante. Ele me bateu e tirou minha máscara. Cuspiu na minha cara. Tive sorte de conseguir sair antes da polícia chegar. Agora minha nova, porém velha arma tem uma bala com o seu rosto, seu nome.
Comprei de um conhecido que conheci apenas uma vez duas colts 1860. Relíquias que atiravam muito mal. Fiz alguns ajustes com vários armeiros. Deu um trabalho incrível mas consegui que um primo levasse a arma para um alemão na zona norte que mexia com isso. Ele falava que o velho era um perito. E eu achava que ele era um antigo nazista.
A Beleza atirava como um anjo. E eu tinha uma missão para ela. Quanto mais nova a arma. Mais difícil de identificar o dono. Eu usava uma arma que apenas algumas pessoas tinham visto. Claro que a desmontei. Mandei pedaços para as pessoas. O único que viu a arma inteira foi o alemão. Mas fiz uma visita para ele a noite.
Percorri a cidade até achar uma corredora de saltos altos. Era ele novamente. Dessa vez não podia errar. Era o mesmo centro da cidade de sempre. Imundo. E com uma vida a ser tirada. A mulher gritava e eu atirei. Acertei o braço dele de raspão. Não estou acostumado com essa arma. Ele corre para um prédio abandonado. Eu o procuro. Para matá-lo.
Farejo cada centímetro empoeirado do lugar. Procuro algum indício. Alguma dúvida que ele esteja ali. Minha arma quer se redimir. Sei que não errarei o próximo. Mas será eu a caça ou o caçador? Essa pergunta vem a minha mente. Ele me acerta com algo nas costas. Minha arma voa pelo chão do apartamento. Me levanto e revido com um soco. Mas ele é forte demais.
Depois de me bater um pouco consigo rolar e pegar a arma. Ele me levanta pelo pescoço e me joga em um buraco. Caio e minha cabeça fica vazia. Apenas escuto o impacto da batida no chão ao cair do segundo...terceiro andar... não sei. Desmaio. Acordo com ele na minha frente.
-Prepare-se menino triste. Você vai morrer.
Escuto barulhos mas não posso me mexer. A dor é muito forte. Ele chuta meu rosto com violência. Acho que pode ser meu fim. Morrer. Morrer e encontrar com a mulher que grita. A que eu deixei morrer. Morrer. Morrer não. Não pode acabar assim. Não desse jeito. Não agora. Não assim. Não. Morrer não. Não. Não!
-Você esqueceu a outra.
O tiro foi certeiro. Atingiu seu peito e isso o fez recuar. Essa arma era demais. Tateio o chão e encontra a outra. Mas uma voz conhecida me faz virar o rosto para a esquerda. Era a policial. Fardada. Armada. E pronta para atirar.
-Parado!
-Agora não, doçura.
Me levanto lentamente e ela me observa.
-Você escutou o que eu disse?
-Escute... vou matar esse homem agora. Com um tiro no meio da testa. E você não conseguirá me parar.
O homem treme e eu acabo. Ela entra e sai pelo outro lado. Junto com vermelho. Guardo as armas. Serviço cumprido. Eu me viro e saio com dificuldades do lugar. Cuspo um pouco de sangue. Mas a essa altura eu já estava acostumado.
-Acho que bati um novo record. Despenquei e estou vivo. Que maldição, não?
-Não é maldição sobreviver.
-Claro que é... Se você tiver que tirar a vida de outro homem amanhã.
-Então pare de fazer isso. Entregue-se a mim.
-Me entregar para que? Quem vai fazer o meu serviço? A polícia?
Foi bom ter alguém para conversar aquela noite. Foi melhor que um cigarro depois do sexo. A minha pergunta não foi respondida. Mas acho que ela entendeu muito bem o que eu queria dizer. Espero que encontre-a mais vezes. Adoro conversar. Não que eu fale muito. Mas é bom para distrair. Não sei.
As notícias ao meu respeito estavam crescendo. Não consegui ser mais discreto e o governo não conseguiu abafar sua incompetência. Sei que serei preso por causa disso. Sei que minha vida estava em jogo aquela noite e que estará todas as noites que passar acordado. Mas não posso viver nem mais um dia vendo uma pessoa chorar antes de morrer. Pedir a Deus. Suplicar pela existência. Não mais. Não agora. E nem nunca mais.


just..enjoy.

Um comentário:

Sah disse...

ahh
eu escreveria um elogio sobre essa história como vc já sabe, mas pra nao fazer isso várias vezes seguidas, vou ser criativa e deixar uma carinha
;B

hahaha
ps. cade a minha criatividade?