Minha amiga anda pela rua e seu parceiro também. Nunca gostei dele, ele é um bom homem mas apontou uma arma para mim. Normalmente as pessoas morrem por esse erro. Mas como a noite está chata, e um trago iria bem, resolvi convidá-la.
-Boa noite.
-Você de novo!
-Calma ae "louca academia de polícia", não vim brigar.
-Você está preso.
-Garotos, acalmem-se. Diga o que você quer logo!
-Fumar um cigarro. Você me acompanha?
-Claro, por quê não?
Andamos afastados do garoto, mas ele sempre estava espiando.
-Como vai o trabalho?
-Bem.
-O meu anda meio parado, deve ser o tempo.
-Quantos você já matou?
-Hoje nenhum e você?
-Não sente remorso?
-É de comer?
-Para!
O garoto olha intensamente e faz um movimento como se desabotoasse o coldre. Mas logo desiste da ação.
-Você fica com essas piadinhas! Isso me irrita!
-Cigarro?
-Obrigada.
-Quer realidade? Assista uma pessoa morrer por não ter um real. Você não poderá fazer nada, pedirá a Deus para que aquilo acabe. Mas não acabará. Depois de ver isso várias vezes, diga que não sou necessário.
-Chame a polícia.
-Não existe polícia no inferno. E se você não sabe, estamos nele agora.
-Se não existem policiais, existem anjos?
-Não. Eles pararam de vir à terra. Só sobraram demônios piores que eles, e esses, estão tentando controlar algo incontrolável.
-Você é um demônio?
-Não chamaria minhas habilidades de Dom Divino.
Um grito tira a minha concentração. Ele está longe. Mas parece ser constante.
-Depois conversamos!
Corro até a origem do som. Os dois vem comigo. O barulho aumenta, a voz não para. Vem de um conjunto abandonado no centro. Sua entrada foi forçada. Claro que algo deve estar acontecendo. Pego a minha arma e me direciono para o lado seguro da porta.
-Espere que vou chamar reforços.
-Não! Isso é coisa minha.
-Você não vai entrar ai!
-Desculpe "Guarda Belo", mas você não manda em mim. Fique ai para não se machucar, sim!
Entro com a arma em punho. Espreito os cantos imundos de um prédio empoeirado e esquecido pela humanidade. Ratos e baratas andam como se fosse uma praça de sujeira, um shopping de imundice. As garrafas de pinga fazem barulho no chão quando ando. O barulho para.
Sabem que alguém está aqui, mas não eu. Caminho pela escada sorrateiramente.
Uma sombra cruza meu rosto rapidamente. Vasculho os quartos, procuro algo que pode estar em qualquer lugar. Abro o quarto do meio. Nada, só ratos. O da ponta também. Empurro a porta com o dedo, o quarto é o último, junto com a parede da escada. A tinta amarela na parede não esconde que esse era o cenário de um hotel antigamente.
A porta se abre e vejo uma jovem amarrada. Ela sangra e chora. Deve ter seus dezoito anos, blusa de faculdade no chão. E um pervertido passando a mão em seu corpo e se acariciado. Fico muito irritado com aquilo. Quero matá-lo, espancá-lo. Mas observo por mais um segundo. Ele se assusta quando me vê.
A noite estava bonita. Mas o cheiro de chuva se misturou ao de sangue quando um corpo caiu e ficou estendido na rua. Dois policiais estavam prestes a entrar no prédio. Cinco minutos depois, a menina sai com o justiceiro mascarado. Seu mal feitor está morto. Viaturas se aproximam. A chuva cai.
No meio da noite o mascarado corre de sua habilidade, de seu dom. Fez o certo por fazer. Fumou seu cigarro por vício. Devolveu a liberdade de quem realmente merecia.
just..enjoy.