terça-feira, 26 de agosto de 2008

Pedaços

vivia se apoiando
em pedaços de amizade
porque aquela era sua vida
e seus pés estavam firmes,
a cada pedaço suspirava mais cor,
cor com sabor de intensidade,
mas quando se fragmentou
perdeu-se entre lembranças de felicidade
e sentimentos de raiva,
mas nada apagava
as intensas risadas de amor.
E no final de uma vida
pessoas à populavam sorrindo para ela.
Tinha a idade do mundo
e não tinha mais idade pra o entender,
então reviveu sua vida
e refez os pedaços de amizade que faltava
sorrindo em forma de diversão,
ali mora uma verdade
uma mulher feita de amizade

carne do meu sorriso

a massa do nosso amor
o frio que nos aproxima
é o teu beijo
no meu sonho branco e preto
você sempre voa comigo
e deslumbrandes de alegria
viajamos nos sentidos
o ápice é a carne
carne do meu sorriso
que você tanto se esbalda
e eu, eu me delicio

domingo, 24 de agosto de 2008

O Peso da Culpa

Não julgastes para não ser julgado. Era fácil dizer. Mas meu julgamento já tem a sentença. CULPADO. E isso martela na minha cabeça. Odeio pensar nisso. Mas se torna frequente no trajeto casa/facul, facul/casa. Nada foi dito sobre os corpos. Se passou um mês e nada. Provável que tenham esquecido do caso. Preciso de um amigo na polícia.
Essa culpa ficou na minha cabeça até quinta-feira. Quando decidi fumar um cigarro depois da aula. Estava a caminho do metrô quando notei uma movimentação. Atrás de uma caçamba havia um mendigo. Ele estava bêbado. Voltei a tragar meu cigarro. Mas subitamente ouvi um choro. Bem baixo. Resolvi ficar rente a parede e me aproximei do homem.
-Não. Por favor.
-Quietinha! Sem gritar.
Uma menina de uns 13 no chão. Com as pernas abertas. Seios pequeninos para fora. Chorando. E um homem nojento no meio dela. Sem a calça. Ele tampava a boca dela. Cansada de brigar a menina ficava imóvel. O sangue subiu. Peguei minha arma. Quando olho novamente.Ele começa a transar com a garota. E ela... Olha para mim. Seus olhos brilham... E pedem socorro.
-Olá... traste.
O tiro pega na cabeça. Apenas um disparo. Estava começando a ficar bom nisso. A garota tenta se levantar rapidamente. Se veste e começa a chorar. Bate no cadáver com as mãos. Deve sentir muito ódio dele. Eu não a culpo. Guardo a arma e corro muito rápido. Em direção a faculdade. Nunca fui burro mas frequentei todas as aulas de direito. Entrei em um bar e me sentei com o meu alibi.
Já não trabalhava bem. Não comia bem. Não treinava bem. Não transava bem. Estava em uma outra realidade. Na verdade, em outro nível. E estava frequentando minhas aulas de direito mais ainda. Sempre com perguntas circunstanciais. Precisava de algo. Precisava de alguém. Precisava me encontrar ou apenas encontrar o q eu fazia. Não aguentei o peso. Desabei a chorar em casa. Ai entendi tudo que tinha lido. Visto. Entendido.
Comprei uma bota de 200 reais. Impermeável. Uma calça preta. Claro que mandei ajustá-la. Camiseta branca lisa. E uma blusa preta. Pronto. Meu material de guerra estava pronto. Mas só parecia com um metaleiro maluco.
Precisava de uma inspiração. Então fui na AnimeCom e prestei muita atenção nos modelitos. Depois de alguns reais gastos para comprar revistas japonesas e contatos na própria feira arumei uma costureira que podia fazer parte do que eu queria. A capa e o chapéus eu comprei. E tudo vestido. Bem... ficava perfeito.
Andava a noite. Nos finais de semana. A procurar qualquer um que não teme a justiça. Vou ser sincero e dizer que demorei para achar um marginal que correu quando me ouviu chegar. Era mais difícil que pensava. Resolvi ir para a Sé. Fui de metrô e em uma das vielas coloquei a minha roupa. Carreguei a arma e fui para a procura. Mas a minha máscara me incomodava.
Depois que passei muito frio, resolvi ir embora. No caminho ergui a máscara e reparei que meu rosto sangrava. Puta idéia de jerico. Se achasse bandidos provavelmente eles ririam da minha cara. "É um pássaro? É um avião? É o Super-Homem? Não! É um tonto de máscara triste." Que vergonha. Sorte que ninguém tinha me visto... Ainda.Escutei barulhos e passos. Alguém corria.
-Central, preciso de ajuda. Estou ferida e tem três homens me perseguindo.
Algo estranho no ar. Me escondi entre a porta e a parede de um prédio. Vi três homens armados correndo atrás de alguém. Não era alguém qualquer. Era uma guarda metropolitana. Ela escorregou e caiu. Os homens a alcançaram. Começou a covardia. Chutes e pontapés. A mulher gritava e sangrava e os homens... se divertiam.
Um flash passou pela minha cabeça. Eu engatilhei a arma. Malditos sejam. Todos. E eu também.
-Boa noite senhores.
-Mas que porra é essa?
-Ele vai para a festa a fantasia!
-Saia daqui! Gritou a pobre moça.
-Não, não. Ele irá nos fazer companhia, certo?
-
Claro.
Eles batiam na pobre mulher. Ela viu sua vida passar na sua frente. Até eu chegar um pouco mais perto.
-Parado ai o da capa. Mas que porra é essa?
-Minha roupa.
-Você é o Batman ou o que?
-Não. Eu sou....
Desarmo com facilidade o primeiro oponente. Bato até ele cair no chão. O segundo não é tão fácil assim. Mas com a faca do primeiro, acerto sua barriga e ele começa a sangrar. O terceiro empunha uma arma, mas não chega a atirar. Quebro seu braço. E o sufoco até ele parar de se mexer. Pronto tudo acabado.
-Você está bem, senhorita
-Não muito.
Escuto passos. Alguém corre. É o primeiro homem que derrubei. Ele corre para se safar. Corre tanto que sei que não vou alcançá-lo. Tiro a arma do coldre improvisado e atiro em direção a ele. Atiro uma vez e erro. O segundo tiro também. Mas o terceiro não. Ele cai e para ao deslizar 5 metro. 3 vidas acabaram naquela rua. Uma vida foi salva naquela noite.
-Você, o matou?
-Espero que sim. Estou ficando sem balas. Falo ironicamente.
-Você está preso.
-Sabemos que não tem condições de prender ninguém, policial. Deite e relaxe. Seus amigos logo chegarão.
-E se os amigos deles vierem.
-Eu estarei aqui... Para te proteger.
Essa foi a frase da noite. Ouvi passos depois de 2 minutos. A polícia cercou o lugar e a policial foi resgatada. Observei de um ponto que não poderia ser visto e acompanhei tudo nos jornais matinais e na TV. Todos diziam de um justiceiro. Um que salvou uma policial da morte e mandou 3 marginais para o inferno. Depois de umas semana ela foi entrevistada e deu o seguinte depoimento:
"Senti frio. Achei que iriam me matar. Me bateram, me chamaram de todos os nomes e falaram que iriam me estuprar. Tive muito medo. Pensei nos meus pais e amigos. Rezei para Deus. E alguém atendeu minhas orações.
Acho que ele fez o que tinha que fazer na hora. Sei que é errado matar pessoas. Acredito na justiça e luto por ela. Mesmo ferida tentei prendê-lo. E no meio de tanta tristeza, morte, frio, escuridão, medo, armas, chutes, gente morta e orações... senti um pouco de bondade do homem da mascara triste.
Repórter: Você disse algo para ele?
Eu disse que mais gente poderia voltar. Amigos dos assaltantes.
Repórter: E o que ele disse?
Que estaria lá para me proteger."
Não sei se a capa deu certo. Se colocou medo naquelas pessoas. Se aquele homem estava sentindo prazer no beco. Se o outro sentiu a faca gelada. Ma sei que se eu não tivesse tomado a decisão certa... A menina não sorriria hoje. E a policial não estaria viva. Agora todos sabem que existe uma esperança. Que a noite tem um rosto.
Agora entendo o por que da roupa. Ela manteve minha alma limpa. Meu sangue fluindo. E pela primeira vez depois de muito tempo, consegui dormir. Eu seu que ela ficara pesada durante o tempo. Sei que levarei o mundo nas costas quando vesti-la. Sei que serei caçado por usá-la. E sei que preciso de uma outra arma e muitas balas.

just..enjoy.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Senta que lá vem a história - Prt. 12

Claro que pedir por coisas boas em uma maré de azar é a mesma coisa que jogar peixinhos para pegar tubarões. Mas... Não custava nada pedir. Ao olhar para o visor do K1 se deparou com o nome que fez a noite esfriar em 1 segundo. Vivi.
-Oi.
-Oi amor, tudo bem?
-Tudo sim e com você?
-To bem, o que vamos fazer essa noite?
-Ah... sabe o que é... essa noite vou sair com uns amigos e não vai rolar.
-Ótimo, adoro sair com bastante gente.
-Estávamos pensando em ir para um puteiro, aqui perto, se você quiser vir...
-Credo, como vocês são nojentos. E Caio, você namora! Não vai pra porra de puteiro coisa nenhuma!
-Perai, perai... não entendi essa última parte... eu o que?
-Namora!
-Com quem?
-Comigo. Não se faça de louco moleque.
-Acho que você precisa de uma garrafa de vinho e uma boa cama.
-Sim, e você ao meu lado.
-Não. Precisa dormir sozinha. Estou dirigindo e o farol abriu tenho que desligar. E não fica me ligando muito porque você vai acabar com a minha bateria.
-Te odeio.
-Ótimo, somos dois. Boa noite.
Ele bate o flip e joga o celular no console do carro. O ódio é tão grande que não consegue se conter e da um soco, assim meio de leve, no volante.
-Eu sei que o carro é seu, mas se você quebrar não chego na balada!
-Desculpe, fiquei irritado, só isso.
-A "Namorada" de novo?
-Essa menina é maluca.
-Deixa eu só entender uma coisa, a gente vai pra balada né? porque não curto muito essa idéia de puteiro. Claro que não tenho nada contra quem vai.
-Não, foi só... uma besteira que disse. Vamos sair logo do estacionamento.
-Que bom que reconhece que é estacionamento. Me preocupei quando você falou de farol.
As graças de Carol se estenderam até o estacionamento do ponto de encontro. Isso fez a raiva passar. Foi como um raio de sol depois da tempestade. Caio se sentiu mais calmo. O sorriso dela combinava com a lua aquela noite. Ele só reparou nisso quando Painted On My Heart começou a tocar.
Ele era simples porém moderno. Era tímido porém sofisticado. Um conjunto de palavras tão belas que ele não conseguia expressar. Olhou para o banco de trás e viu sua velha mochila. Quando o farol fechou ele pegou sua velha câmera e tirou uma foto do momento.
-Essa é a sua câmera?
-Não, essa é a câmera do Marco, era minha e eu dei para ele. Comprei uma da mesma marca, mas um pouco melhor. Ele queria aprender a fotografar, ai dei a minha de presente.
-Vocês são bons amigos ein, essa câmera deve ser uma fortuna.
-Não muito, acho que deve ser uns 1500 reais. Mas não me importo. Quando eu estava vindo para o Brasil, ele me deu a câmera e disse "Você me devolve pessoalmente, na sua casa, quando eu for para o Brasil." E ele está vindo.
A balada estava ótima. Música alta, gente bonita, muita bebida e é claro. O show de Botas. Fernando e Gabriel davam risada quando Fernando decidiu acompanhar Felipe na pegação. Era tanta bota seguida que Felipe ficou bravo.
-Cacete brow, você tá me atrapalhando. Fica ai enquanto pego aquela loira.
Não deu outra. Felipe chegou e simplesmente... Pegou. Coisa que deixou Fernando e Gabriel um pouco calados. Caio ficava a admirar todos rindo. Foi ao bar, pegou uma caipirinha. Sentou-se a mesa e os amigos se juntaram a ele gritando e dando risada.
-Eae senhor gostoso, cadê o mel? Diz Gabriel.
-Fico em casa junto com a sua irmã! Responde Felipe irritado.
-Começou a putaria, diz Fernando enquanto bebe sua cerveja.
-Espera lá, pessoal, pessoal... OW CACETE, CALA A BOCA.
Todos olham para Fernando quando ele aponta para as escadas da área VIP. Vivi vem descendo as escadas, olhando para os lados enquanto Caio se esconde embaixo da mesa.
-Oi garotos.
-Fala Vivi, como anda a saúde? Diz Gabriel ironicamente, dando chutes em Caio.
-Estou bem, mas... e o Caio?
-"Que Caio?", "Não conheço nenhum Caio", "Caio?" dizem os meninos.
-Ele está ai ou não?
-Ah, o Caio. Não está não.
-Quem estava aqui? diz Felipe olhando para os lados procurando alguém.
Guilherme chega carregado por um de seus amigos.
-Era ele que estava aqui. Não o Caio. Diz Felipe, o expert em enganar as mulheres.
-Até parece!
-Quem é Caio? Diz Guilherme.
Caio começa a suar frio. Embaixo da mesa tem de tudo, até uma calcinha de oncinha. Ele já não está aguentando ficar no lugar. Torce muito para Carol não ir até a mesa. Mas quando se joga bola dentro de casa, algo sempre quebra.
-Oi pessoal. Diz a voz doce da menina. Vocês viram o...
Ela é interrompida quando Felipe sobe na mesa e começa a fazer a coisa mais maluca de todas. Dançar. Um remix de "I'm too sexy".Ele começa a mexer na camiseta. Garotas começam a gritar e ele joga para as meninas o pano que o cobria. Vivi assiste tudo de camarote e de boca aberta. Na verdade todos estavam de boca aberta. Até Caio da uma rápida espiada no amigo dançarino.
Os seguranças chegam e expulsam todo na mesa. No meio da confusão Caio se junta a multidão. Como nos filmes de Agente Secreto. E consegue correr até o estacionamento. Ao ligar para os amigos e dizer o ponto de encontro se sente mais aliviado.
-CARALHO MANO... o que foi aquilo? Grita Gabriel.
-Ah velho, tinha que tirar a gente de lá né!
-Bela! Adorei Felipão.
-Tudo por você né parceiro.
-Agora que eu estou fora e as meninas já estão vindo, alguém pode me dizer o que foi aquilo?
-Claro que sim Carol, eu mesmo conto. Mas ante vamos para o meu apartamento.
Guilherme levanta a mão e fala que tem tequila no carro. Mas está tão bêbado que não sabe onde colocou as chaves. Mais uma vez a noite prometeu e rendeu para os amigos. Não rendeu garotas e nem dinheiro. Bem, para uns sim. Mas rendeu risadas e acima de tudo, mostrou que eles são verdadeiros amigos.
-Até que enfim esse tanquinho serviu para alguma coisa em Felipe.
-Você tá com inveja né Fernando?
-Eu não contei quem vem amanhã né! o Marco.
-E quem é esse? pergunta Gabriel.
-Eu quero tequila. Diz Carol.
-Já imaginou se a Vivi vem correndo com um tamanco na mão e gritando "Filha da Puta, eu te mato seu desgraçado!".
Todos riem.


Just..enjoy.

sábado, 16 de agosto de 2008

Um...Heróis?

Apenas parei para pensar. É estranho o mundo daqui. Uma visão realmente distante dos problemas que estão no chão. Como as pessoas podem viver naquele inferno? Bem, será que o inferno é pior que isso? Pessoas chorando, morrendo de fome, pedindo a Deus que as leve mais rápido pois sua doença terminal mata mais seus familiares que elas mesmas... violência.
Perdi as contas das vezes que escutei essa palavra quando ia para a faculdade. Perdi as contas dos inúmeros motivos pelos quais as pessoas matam, umas as outra, seja no trânsito, em casa, na rua, na balada... A ciência humana é muito complexa. Acho que foi esse o motivo de faltar nas aulas que tratava especificamente disso.
Sou o que sou por escolhas, por decisões próprias. Nasci igual a todas as pessoas. Uma boa famílias. Não em berço de ouro, mas tive o que precisava pra viver. Tive comida, roupas limpas, pais amorosos e estudo. Creio que por isso odeio tanto o mundo. Na verdade não o mundo, mas algumas coisas. Quer saber quais? É só olhar para o lado.
Como faz frio. Sei disso por causa das pessoas que circulam na rua. Mas não sinto nada. Estou extasiado de sentimentos e minha cabeça... Bem... Ela está onde deveria estar. Perto do meu pescoço. Precisava de um café. Não, um chocolate quente, isso que preciso. Chocolate e um bom cobertor. Isso sim seria uma boa idéia. Mas não estava falando de mim.
Na verdade estava. Cresci muito rápido em tão pouco tempo. Minha idade não é importante, mas sim quem admirava. Sempre assisti filmes "Hollywoodianos" onde os malvados são pegos pelos bonzinhos. Alguns morrem e outros são mortos, mas a justiça sempre prevalece. Leio histórias em quadrinhos. Sei do que heróis são feitos.
Comecei vendo meu vizinho ser espancado por uns garotos na escola. Tive muito medo de apanhar. Mas o vi sofrer, e seu rosto não sai da minha mente. Apanhei umas 3 vezes na escola. Não me lembro o motivo, mas tive medo. Já vi vários assaltos na minha frente e sempre tive medo. Mas um dia... essa palavra começou a sair do meu vocabulário.
Fiz artes marciais por 10 anos. Uma tentativa frustrada de não engordar. Coitada da minha mãe que me levava aos gritos e prantos até a academia. Mas o garoto cresce e vira moço, homem e decide fazer o que tem que fazer. Meu fascínio por espadas era incrível... coisa boba não? É... mas assim que começa.
Chorei em lápides de parentes queridos levados pelo tempo. Chorei em lápides de amigos levados pelo dia-a-dia, pela vida marginalizada de nossas cidades. Chorei por amigos, irmãos e irmãs. Então. Mudei da lâmina para a pólvora. Fiz o que eu não deveria fazer. Comprei uma arma de alguém que conhecia alguém que me apresentou a alguém.
Saia com receio de ser parado pela polícia. Mas em uma noite muito parecida com essa. Um grito desatou os nós de quem estava amarrado. Um garoto estava sendo assaltado. Batiam com um pedaço de madeira em seu rosto. Pediam dinheiro. Pediam coisas que ele não tinha. E não viram o óbvio. Ele estava com medo.
Colocaram uma arma em sua cabeça e atiraram. Riram. E atiraram novamente. Pra que tanto horror? Não sei... Uma semana depois. Estava voltando de um happy hour. O metrô estava vazio. Bem, não tão vazio. Um rapaz saia pela estação Brás. Alguém muito parecido com o homem que matou outro homem por causa de papel.
O segui. Coisa que nunca fiz antes mas já vi em filmes aclamados. Ele entra em um beco e acende um cigarro. Um outro homem se aproxima. Pela ironia da vida, os bandidos se encontram para a última tragada juntos. Começo a tremer. Meu corpo avisa que não quer fazer o que meu cérebro sabe o que tem a ser feito. O menino que morreu foi pra estatística e eles... Vão para o inferno.
Chego e pergunto se eles tem "algum" para vender. Gíria que mostra que você é das ruas. Eu acho que é um jeito chulo de pedir drogas. Eles dizem que não e eu pergunto de cigarros. Uma caixa vermelha é aberta e pego um comprido. Então me perco em revolta. Tremo mais ainda e tiro a arma da bolsa:
-Ei cara, o que é isso?
-Justiça.
Dou três tiros no dono do cigarro. O que olhava e sorria enquanto seu amigo batia e matava o pobre rapaz.
-Por favor, tenha piedade.
-Você teve do rapaz?
-Que rapaz?
-Devem ser tantos... que você nem lembra, certo?
-Desculpe, eu perdi o controle. Não queria fazer aquilo. Pelo amor de Deus. Não!
-Eu sei disso, Você o matou por papel. Mas já que falou de Deus... Mande um abraço para ele.
Paro de tremer. Acabou. Pego o maço do chão. Acendo o cigarro e pego o metrô para casa. O que eu fiz? Como pude? Como tive coragem? Sou um monstro. Mas estranhamente, não sinto nada por isso.
Se não tivesse tomado a decisão certa aquela noite... não estaria aqui. Vendo carros e pessoas passarem. A brisa bate mas não sinto nada. O tempo passa e não escuto o barulho dos ponteiros. Apenas gritos ecoam em minha mente cansada de ser normal. A flor brota, mesmo nos terrenos com lixo. E essa cidade virou um lixo, e faço parte dela.
Entendo o por que de sempre achar que era diferente. Sou a pessoa normal, que a humanidade tornou o que é. Sou o último suspiro de alguém prestes a morrer. Sou a ajuda. Sou a luz na noite. Sou o caçador de demônios sozinho na escuridão. Sou a tristeza do teatro grego. Sou a máscara que ninguém sustenta. Sou o projétil que gentilmente chamamos de "bala".
Não me orgulho de estar em cima de um prédio. Observando pessoas para lá e para cá. Com uma arma e sangue nas mãos virei "sujeito homem". Mas mais do que isso. Virei a esperança de alguém que clama por ajuda. Pode me chamar de vários nomes, mas sou um mensageiro. E estou aqui para tornar o inferno pior, mandando todos os trastes para lá. E no final. Como toda boa tragédia grega... me juntarei a eles. Mas isso... levará um pouco de tempo. Espero eu. Pois há muito trabalho a ser feito.





just..enjoy.

sábado, 9 de agosto de 2008

Na correria do dia-a-dia...

Na correria do dia-a-dia não olhamos para os lados. Apenas damos passos longos para chegar ao trabalho. Passamos por grilos cantantes, mas nunca reparamos como são belos. Comemos rapidamente e tomamos o suco em um gole, não vemos a fome de pessoas ao lado. Na pressão de não perder o trem atropelamos pessoas, mas só nos importamos quando a machucamos com nossos carros.
Na correria do dia-a-dia não conferimos o troco, depois reclamamos que há pessoas desonestas. Não dizemos obrigado ao segurarem o elevador, todos somos empregados de nós mesmos? Nessa correria, que só vence quem é mais forte e não mais ser humano, descobrimos que ser humano é ser errado a todo o bom senso possível.
Mas e quando dizemos obrigado, nos importamos com os outros, reparamos na beleza da natureza e acreditamos nas pessoas? Aí somos chamados de Sonhadores, e posso dizer meus caros leitores, sou um eterno Sonhador.


just..enjoy.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Um novo começo?

Passaram mais de um mês. Nada de russos, italianos, japoneses ou colombianos no seu pé. O mar parecia mais azul. O sol mais brilhante. E as garotas mais belas. Começou a fazer yoga todas as tardes. Deu um novo rumo a sua banda. Sua vida estava muito boa. E o sucesso começou a aparecer. Estava Fluindo como um rio.
Estava tomando uma cerveja em um bar beira-mar no Guarujá. Olhava para o horizonte e escutava sua banda predileta. Buscou a perfeição nas estrelas. Tirou o carro da vaga e o colocou na areia. Ligou o som e deitou na areia. Incubus era o que tocava e isso embalou os pensamentos do jovem aquela noite. A vida mudou. Mas por quanto tempo?
Existia um favor. Na verdade dois. Um a ser cobrado e outro a ser feito. Mas procurava não pensar nisso no momento. Sua mente era igual o céu, aberta. Seu telefone toca. Mirela sua vizinha no Guarujá. Depois de algum tempo ela se junta a ele. E trás consigo uma garrafa de vinho francês que roubou da adega de seu avô.
Entre goles de vinho e risadas, ele percebe como o cabelo dela mexe. Como o formato do rosto dela é perfeito. Como seu sorriso é lindo e como seu coração bate um pouco mais acelerado. Faz tempo que isso não acontecia. O único motivo para que seu coração batesse mais rápido era a adrenalina da morte. Mas não essa noite.
Todos tem uma vida difícil. Mas cabe a nós termos momentos de alegria e felicidade. Nem para o maior imperador, nem para o mendigo a vida é fácil. Mas todos temos que sobre sair aos problemas, e levantar a cabeça como um gesto de luta. É isso que o mar faz, nunca se cansa de bater na costa, mesmo que bata em pedras, para beijar nossos pés.
E com esse pensamento o garoto teve sua maior descoberta. Descobriu que pode achar um pingo de esperança em um mar de decepção. Descobriu que todo o mal pode ser suportado. Que o céu é imenso e o mar é manso. E descobriu que não era só o seu coração que batia mais forte aquela noite.
Um carinho no rosto. Um gole de vinho. E um beijo perfeito. Tornaram aquela noite memorável. Foi um toque sutil apenas. Não rolou mãos bobas e nem sexo. Apenas um beijo e o calor dos braços. Por um momento ele quis chorar. Sentia que nada na vida valera a pena. Só aquele momento. Mas se ele chorasse, não se chamaria Eduardo.


just..enjoy.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Milímetros

Me vi sentada em uma cadeira,
de vidas caladas, os muitos verões que vivi se remexiam dentro de mim.
Vozes gritantes alteradas ao meu redor e meus sentidos balançando suas mãos e me desejando uma boa vida,
essa tarefa de buscar é coisa complicada, quando se acha algo, se acha nada,
e quando se acha algo nada, não se sabe se aquilo é alguma coisa.
Minhas pernas de concreto doíam e minhas botas estavam pesadas, mas digo-lhes uma observação importante: era meu coração que pendia à dois milímetros do chão.